Manuel Neto dos Santos

Nasceu em Alcantarilha (Silves-Algarve) a 21 de Janeiro de 1959.

Frequência superior em filosofia. Autor de vastíssima e multifacetada obra poética, grande parte dela ainda inédita. Nas suas 16 obras já editadas, a sua essência telúrica remete- nos para marcada ascendência arábico- andalusa, espelhando claros sensualismo, ritmo e luminosidade. A riqueza de todo um léxico onírico, na frescura de uma voz tão livre, única, quanto universal.

PÓRTICO

HOMENAGEM A ANTÓNIO PAULO TOMAZ

Confidencio-vos, destarte, a minha “coroação”; eis-me, no trono do silêncio. Falar- vos- ei desse meu reino para que, sobre o realismo, me desoculte; como clandestino que viesse apregoar a estranheza das coisas e das formas, passo a paço, em pleno terreiro. Venho a Terreiro!

Matricialmente sentado, surgem, de mim mesmo, os braços que sustento-me no régio assento e assento, pela fragmentação de tudo o que, continuamente, me transfigura pela (trans) figuração do ingénuo espanto num galicismo “naif”. Estofo- vos o olhar. Eis o meu castro; a casa da liberdade. Miserável casa de pasto, sem trigais, com os mesmos hóspedes repetentes; cadáveres “esquisitos” para o mundo, para mim não, que os tenho por genealogia. Todo o meu vigor de efebo é octogenário, com o subconsciente mais vigoroso que as marés vivas…

Venho falar-vos da “coroação”, nuns breves traços a tinta da china, nuns (baixos) fundos, fundos uniformes e formas (in) definidas. Passeiam “ cadáveres” na minha alma, como pela marginal dos corações marginais se arrasta a inércia de um povo, quando todas as evidências nos assolam o rosto, lembrando um sol de Verão, ao Sul…

Venho falar-vos da “coroação”; eis uma poltrona de silêncio, os ceptros (feitos dos meus braços) impõem o feudalismo da ausência. Dos outros, ficou a imagem da desconstrução, da desmontagem do mundo, como se de uma arcaica cerimónia se tratasse, apontando a linha de água, onde o céu se vem celebrar acariciando, a crista das ondas… Eu não, tive a juventude como matriz respiratória, como poeta que descrevesse as cidades nuns quantos traços… Coroo-me com a marca da sapiência e da alegria no meu rosto moreno e olhar que vos desnuda. Jocoso e épico para que me desenhe pelo deambular das tintas e aquamotos, como se os sonhos mais secretos fossem publicamente subtis nas texturas, ambíguos como leituras iniciáticas. Uns quantos riscos; eis o adem para um brasão, ou a falésia sobranceira a um mar de folhas. Fui simples caderno de desenhos assimétricos numa realidade paralela.

Entronizei-me em meu corpo, por inteiro, com a esfíngica expressão de um cruzeiro solitário na aspereza da serra, aguardando o “Desejado”. Outros foram felizes, riram-se com displicência; eu não. Tomei os primitivos instrumentos e concebi altares sacrílegos e rostos como pontos de vigia, ou guaritas( lembrando Janus) de onde vislumbrei o passado, o passadiço e o futuro. Venho falar-vos da “ coroação”, da visualidade e da poesia; corpos que se exprimem abertos, como bocas enormes à espera do grito, que não chega a todas as faces, para que seja caligrafado o absurdo do medo interior… Acorrentei as horas, e os relógios na sua mudez, a um passo apenas… só para vos contar a brevíssima história dos lugares por mim absorvidos e devolvidos, depois, como percursos labirínticos do autodidactismo; rasa foi a instrução livresca para o operariado de um supra realismo como se descrevesse um traço inicial a pedido (em surdina) da arte bruta…

Sondo o interior da matéria poética, na hierarquia de emoções, como presença normativa do alto sentido simbólico. No crivo do silêncio, ostento-vos o sonho postiço, como pepita, desfiando a destrinça dos gestos, desafiando o cascalho das horas, os seixos dos instantes…

Sondo, a superfície das formas pela íntima coerência e, todavia, à cabeça do poema, suspenso, continua ainda a guilhotina da demora, como visões distantes. De todas as distâncias, a distância do amor deposita, a meus pés, a proximidade de um vocabulário figurativo; como se a nesga do horizonte fosse audaciosa. Mas não, tudo raso, no ramerrão da monotonia, a empurrar o sonho para o abismo.

Destronei-me de originais subtilezas e perante um séquito de instintos, rasurei umas noventa folhas, como se a noite obscura despontasse sem ornatos, sem faróis, sem espirais, sem ritmos curvilíneos… Vim falar-vos da “ coroação” da estranheza inquietante, na inquietude da Arte Maior; amar e ser amado; à pressa, por isso me demoro e moro como desconhecido. Eis-me, sem escola que não seja a dos relampejos de loucura, pois tudo me foi necessário, como este regresso, com a brevidade da ávida pulsão dos olhos, para que se vejam a si mesmos…como esboços.

Antes que derrame o primeiro verso sobre o papel em branco, faço um silêncio; tal como o cirurgião que desinfecta as mãos antes de lancetar o golpe original.

Tudo tão inseguro em mim; como criança que tentasse pronunciar as primeiras palavras, assim, engatinho as palavras das minhas tendências interiores;

Por isso a poesia não é uma viagem mas antes uma dança entre ideia, som, música; que não me leva a lado nenhum e, no entanto, viajo por ele para dentro do encantamento de um sorriso, com a largura de um verso…

Inicial.

Ah, toda a minha saudade é uma saudade de pedra. Um cais deserto, de onde parto para a unigénita tarde de Verão; deverão meus versos ganhar a doçura demorada de um barco que desliza para se fazer ao mar; sinto, no meu sangue, o marulhar do arrojo dos marinheiros meus avós… E a saudade fica, além, na várzea da Orada (antes vale nevado de amendoais…) Faço esta alma ao mar, pelos meus olhos; grutas, leixões, o azul, espuma sem escolhos, que mo diz a poesia…sou mareante da Voz.

Pede-me o poema que eu seja “pedra de toque” e que vos toque a essência…

Com a violência dos estados de alma e a descoberta com que as palavras justificam o mundo.

Ah, fosse eu um túnel escavado no bojo da vossa sensibilidade e os pássaros amedrontados dos meus gestos soltariam beijos como gorjeios…tal como a chuva inesperada acaricia a terra ressequida.

Nada tenho a resolver pela vida para além do acto de existir.

Dispo-me, por fim; da casa, dos sonhos, dos céus que vi mas dos quais não me recordo porque não passaram a fazer parte de mim…

Vi, por ver, tal como vivo e, ao existir, aprendo ( docilmente ) a forma mais poética de morrer.

Fiel à realidade (do mundo) transfiguro- a numa verdade antiga, composta de primordiais elementos; comungo o espírito dos lugares como se um sopro fizesse aliança com a minha alma e me revelasse as origens de tudo derramando, em minhas mãos, o infinito.

Fiel à abundância do desejo, busco a transparência e a exactidão e, de olhos esbugalhados, contemplo o céu defronte e a alma rasteja, languidamente, para que eu saiba que existe, de facto, o chão.

Vem! Obstinado rigor que me exige a perfeição, como um coro grego dentro dos sentidos.
Vem! Espantoso esplendor, do mundo, numa atenção inusitada.
Para que, para além da Arte, os meus sentidos não me revelem mais nada.

Herdeiro da dignidade, e da liberdade do ser, confiante no progresso das coisas, dizem- me (as coisas) que progrido e eu… como irmão que sou de tudo o que existe, sinto- me como se fosse todas as coisas e dá- se, dentro da minha alma, um reboliço medonho e estranho que não sei bem se é alegre ou triste…

Para o amigo
João Carlos Fino Figueiras


Opero- me no desejo de me construir como forma de linguagem; formoso e inesquecível.

Busco o exagero da profundidade, para que possa erguer o meu voo quando a tarde empalidece e as ilusões extremas rutilam, como sinfonias improvisadas dizendo que a eternidade é possível.

Opero- me no desejo das lucidezes fingidas e finjo de modo tal que deixo de ser poeta e passo a ser todas as vossas vidas.

Atravesso, solenemente, as condições da vida; como imperador do desencanto. Queixo erguido, fronte aguardando a coroa de raios de sol…

E uma chama, impune, diz-me que me sacrifique pelo rigor extremo da Arte; sei que a força absoluta da poesia apenas me aparece por singulares maravilhas, dos mais improváveis tesouros, como se um vazio perfeito me habitasse, por completo, e não me pudesse alcançar senão através de largas e rudes obrigações de existir.

Severo, decretei a clausura de vastos espaços, como se os olhos apenas prestassem vassalagem ao trabalho natural do espírito e da alma, par que um passado, algures, no futuro me venha a dizer que sou um encadeamento melódico e me depare com a sesmaria de mim mesmo, e o sesmo da ilusão, do qual ainda me aguardo vislumbrar, como promessa, me justifique a verticalidade da palavra; sesmo.

Interrogo a verdadeira natureza da poesia e surge-me resposta; como pedaço de vidro reflectindo os raios de sol, ou dando à luz como rasto de incêndio pelo pasto ressequido do quotidiano de uma vida estalando, rasa, como restolho.

Desejo dar-me, tal como me entreguei nesse redil de afectos adolescentes, libertando a ideia do Belo em poucas palavras, como a mais perfeita libertação da essência…

Interrogo; o prazer, tal como a dor, é moléstia para o sonho, esse que se desfralda quando nos apaziguamos com a natureza de tudo e não explicamos nem as árvores, nem os rios, nem as flores; apenas contemplamos e sentimos harmonia de uma insónia cambaleando pelo cansaço de existir…

Desejo dar- me, por amar todas as minhas derrotas bem mais do que as conquistas, pois são aquelas a estranha necessidade de me dizer, numa sôfrega exaltação sem termo certo…

Interrogo-me, para vos dizer que o real é apenas aparência; como gazelas acossadas numa savana lembrando um mar de fogo…

Que seja deste modo, em minha alma, a natureza da Poesia.

Enveredo pelo duro artesanato das palavras. Burilo os versos e vou, pela minha vida, como se fosse por uma estrada que se vai abrindo ao som dos meus pés. Não vos conto sentimentos mas vivências da imaginação criadora, por isso quando vos falo das cores e dos sons, essas cores e esses sons existem em mim para que vos possa contar.

Enveredo pelo duro artesanato do silêncio, para que as imagens do mundo não sejam fingimento mas antes os paralelos mais perfeitos que me descrevam como ” sentidor”.

Digo-vos o que, efectivamente, sinto e se, por vezes, digo o que decido sentir é para que afaste da minha essência a tentação de tudo o que julgo dever sentir…

Enveredo pelo duro artesanato da espontaneidade pura, como se a Arte fosse um campo de batalha e uma etérea construção se erguesse dos escombros…

Enveredo, por encruzilhadas; e por tudo isto, existe em meu olhar a expressão de sacrifício…como se carregasse a própria cruz, de um sonho, sobre os ombros.

Amigos, que escutais o meu silêncio, tenho em vós o coro de mimetismos como irmandade pois que apenas o que é fecundo é verdadeiro.

Vós sois o anfiteatro para a minha grandiloquência de palavras; sei que apenas me entendo regressando- me pela voz, por vós, num fatalismo pessoal.

Digo- vos, há subsolos em mim que até eu mesmo desconheço;

Letárgico torpor de grã meiguice.

Amigos, que escutais a minha confusa vozaria de imagens dispersas que vos olham como retratos de entes queridos, que vos olham e vos desnudam a tristeza da ausência…

Amigos, eu habito o imaginário porque me recordo e o meu futuro é todo construído com o passado, como sedimentos diversos das rochas do meu país ao Sul como se a minha alma, toda obscura, apenas o colorido consentisse….

E a vida recebesse, com dolência.

Permanece o passado tão presente; servo da gleba, nascido de outro mar que não de praias nem de corais mas de currais de enseadas de ânsias de outros desesperos…

Permanece o futuro, ainda imperfeito, como se a terra percorrida me deixasse na memória um marítimo engano…

E as caravelas e os moinhos desfraldasse, a todo o pano, nos versos (de fingidos)

Tão sinceros.

Quero entender o tempo da fala; antigo e novo, rico de imagens pela escassez dos dias;

Ressuscito, pela boca, o inconsciente da infância; o lugar ameno, avarento de pobreza extrema, generosa e benfazeja…

Em abundância .

Há noite, dentro de mim, em pleno dia;

Esboços de sombras para que a penumbra aconteça antes do ocaso…

E vou, pelas horas, a transbordar de raso, bordando a aridez dos segundos

Como primeiros açudes da agonia.

Escrevo, para que a vida se complete numa respiração nostálgica e, ao mesmo tempo, indicadora dos voos oníricos rumo a esse tempo em que a esperança era um vergel radioso e toda a placidez do mundo morava em minha alma.

Escrevo, para que os limites do tempo ganhem um fôlego renovado e a luz crepuscular me venha devolver o sentido das coisas, fechando o círculo que mais não é que simples recta cujas extremidades se tocam…

Tocam-se as idades extremas, e por isso escrevo…

Escrevo, porque a imensidão está em nós, para que se talhe, em meu coração, um refúgio saudoso, tal como se desdobram os vales…lembrando soluços na paisagem.

Escrevo, num anseio de protecção para que a minha alma acredite no mundo, como se o mundo das palavras fosse composto dos brinquedos que não tive.

Escrevo, para que o poema seja auto- retrato; apenas dos soluços da minha alma nuns riscos esbatidos, a carvão, como um declive.

Cada verso é um pássaro levantando voo da brancura da folha, um voo sem arestas que rasguem o espaço pois que logo a seguir o espaço se remenda; o esvoaçar é o leque de umas asas que agitam a quietude dos dias, tal como os devaneios me indicam a migração do sonho, ao longe. Não ter esperança é não ter medo mas a firmeza do espírito perante males e desditas, sem que o temor me belisque a constância, pois que o medo é uma estranha paixão… Cada verso justifica a vida inteira pois guardo, na mente e nos lábios, a ideia e a expressão da morte. Cada verso é um pássaro repetido, tal como repetidas são as gradações do sentido para me dizer, como se a dinâmica do que escrevo vos lembrasse núcleos ondulantes em movimento… Num “ostinato rigore”.

Cada verso é um pássaro que esvoaça das palavras no simples rumor do deslizar da pena, como se um errante desassossego se erguesse sobre a folha; o pássaro é o ponto de partida aonde chego, como se fosse eu mesmo o signo principal par que a imagem do mundo se perca e exista em mim apenas o acto de escrever… cada verso é um pássaro paradoxal de uma vivência em crise como se tudo se desfizesse no turbilhão da vida interior. É pelo verso que voo para além do que sou, rumo ao que é profundo e original, e regresso ao aconchego do silêncio, ele sim, arrancado do pó, e adormeço em minha alma como se a vida fosse um ninho de andorinha, das memórias de criança, das quais me modelei…como beiral.

Íntima, como o sangue, a minha sede de ti é um ardor de bruscos afectos despertando as horas, como se do alto de uma escadaria descessem, medrosas de tamanha altura.

Íntima, como o sangue, a fatigada dormência de um corpo lembra- me o dissipar de uma bruma que surgisse de repente.

Íntima como o sangue, a flor secreta dos teus beijos desperta, em mim, um anoitecer todo debruçado sobre o escuro como se as mãos, em perfeito desalento, tombassem no regaço, como se cai no mais profundo abismo.

Íntima como o sangue… Desagua em mim a ausência das escadas, da dormência, e dos teus beijos para que entregue; o corpo e a alma, ao teu corpo, novamente.

Para al- Mutamid
e Manuel Moya



Escrevo, para ouvir como se agitam as águas perante o rumor da minha voz, guardado num poço de perpétua escuridão. O meu poema é um vulto branco a arder ao sol mortiço de Outono (em pleno Julho) e tudo em mim arrasta os passos, como presos agrilhoados, cumprindo a pena capital de ter nascido; condição de poeta, por orgulho.

Escrevo, como se eu fosse pátios, fontes, arabescos precisos numa profusão geométrica a lembrar quando o sol vem incendiar o vermelho dos gerânios, para que a luz não repare em mim e eu possa ver, bem lá ao longe, o lugar de onde já fui… Escrevo, para que os sons da noite se revelem como relâmpago azul dilacerando o silêncio e eu veja através da janela um céu despovoado de nuvens, e vos lembre um deserto abobadado. Escrevo para que os versos sejam um bando de estorninhos e o voo colectivo das palavras me indique a minha própria migração; negros, negros como tantas paisagens de brancos areais; versos que reflectem a sua viuvez na imensidão de um mar atravessado. Escrevo, num cárcere ainda por erguer, que a vastidão da minha taifa se apresenta como a subida heroica ao topo das muralhas, testemunhando a horrenda mortandade, à sede, “no palácio das varandas” XARAJIB, como morrem as flores silvestres no Algarve em pleno Agosto… Escrevo, num naufrágio por dentro do que sou, pois a alma hoje rasteja (pele e osso) tão sedenta…com um véu de desespero que me vai escondendo o rosto.

Guardo memórias, como um guardador de rebanhos, só que as minhas memórias se escondem por matagais espessos e raramente acodem quando as chamo. Por isso, aprendi a fazer funda certeira com a tristeza pro-funda e quando o silvo do poema tresmalha o silêncio vejo, pelos tojos floridos, um chocalhar de lembranças que me acenam balidos de regressos aos meus ouvidos… Guardo memórias, no pastoreio da transumância dos dias.

Vou, de sonho em sonho, como que descoitando vergéis e prados tenros, como foi tenra a minha esperança…Faço colheitas de aromas e de cores para os celeiros dos versos futuros e guardo as nascentes dos rios para o regresso das memórias de ilusão e converso com a resina das árvores; o sangue branco fossilizado sobre os troncos. Guardo memórias como quem guarda o provérbio de existir mas, por vezes, quando regressa o rebanho vejo não ser meu e… num pranto de orfandade, aos gritos; “Adji!!Adji!!!” nos poemas tresloucados lanço aos rios o cajado e a funda…e de tristeza tão medonha; desato a rir. Sou rabadão.

Corro, pela borda da noite, para resolver o caminho, como se o caminho fosse o lugar exacto de um lugar perfeito pois quero deixar ao longo da muralha que me separa da manhã num gesto de prata como traço deixado pelo caracol…Vislumbro insectos, que me justificam a existência da lua muito mais que a luz, intermitente, de um candeeiro a meio da aldeia… E vou, pelo empedrado sonoro dos passos, por Monte Boi deserto, em plena escuridão. Regresso, ofegante por dentro da alma; escrevo o primeiro verso e eis que nasce o sol.

Tal como o fogo se levanta das cinzas…Assim preciso de sorte que se erga vigorosa;

Pétalas de lume, o perfume adocicado da tua seiva e os recortes das formas do teu corpo, rijo e enxuto, firme em plena aragem, como é firme todo o esplendor da rosa.

Meço o fragor dos dias como se um troar de milénios sustentasse uma enorme janela da qual me debruçasse para contemplar o universo.

Um dia, talvez eu possa levar pela mão a insegurança de um corpo etéreo para que a lua saiba, de mais perto, as ambições que o meu coração veio a revelar.

Meço o fragor dos dias, como fragmentos de relampejos indecisos; ilumina- se a noite tal como se ateiam as praias e entendo que o universo é apenas o luar.

Quero ver a alegria das paisagens eivadas de matizes; sem Matisse que as pinte ou que as descreva.

Descrevo- as eu com este fulgor jovial de um amante que vê o outro num sono profundo, como se um perfume de alquimia se libertasse da pele e transfigurasse o próprio ar.

As árvores do conhecimento sou eu mesmo, mesmo que de mim mesmo ande à procura.

O que transformo em sonho é o que perdura, como os grãos que apodrecem e justificam a eternidade da sementeira.

O que transformo em sonho são andamentos de fogo sobre os sentidos; allegro ma non tropo.

Sob firmamentos marítimos que me justifiquem os teus cabelos em desalinho para os instantes voláteis, como são voláteis e efémeros todos os sonhos… por inteiro.

O que transformo em sonho é a manhã, mais brilhante do que nunca, coroando a fronte do outeiro… Para que as palavras sejam rituais de entrega e a lua se venha recolher em minha alma, do mesmo modo que, ao crepúsculo, regressa o chilrear dos pássaros ao pináculo verdenho de um solitário pinheiro.

De um alto segredo, para que as profecias se levantem do pó num deslumbramento de presença inesperada, inclinam-se as paisagens até ao mar… como se os poemas fossem rios diurnos e a espera de te ver relampejasse no escuro no exacto momento em que o mundo se transforma em algo que não sabemos mas que sabemos que há- de vir a ser…

De um alto segredo, passo os olhos sobre o leve e abstracto correr do espaço e todos os ritmos sobressaltados e antigos desaguam como se fossem um mar de trigo maduro sobre a planura a perder de vista…ao Sul do Tejo.

Envelheço- me e vejo- me, do alto de um alto segredo, segurando o bordão da melodia, como segurávamos o dorso de uma onda, na algarviada de alaridos, num dia de praia…quando o corpo ainda era despido de penugem, como pêssego ainda imberbe.

De um alto segredo, a paisagem regressa ao útero da penumbra, para a gestação da noite; até amanhecer.

ANDA LUZ (dentro de mim) em luna llena



Por ser poeta, vivo mais perto dos animais e dos deuses, sou pescador de estrelas e deixo cantar o coração pois sei que a inspiração é apenas ímpeto suicida para materializar todas as nuances do sofrimento. Tento percorrer as cercanias adorando tudo o que é imperfeito par que a emoção se transforme em pensamento e o pensamento, por sua vez, se deslumbre perante todas as coisas. Por ser poeta tenho, na lua (cheia) o meu lugar de exílio e ardo em febres de luar e vou falar, a sós, pelos caminhos que relembro mas ainda não vividos e presentes de tudo o que ao redor contemplo. Sou como um cravo de neve e de fogo e grito nas folhas dos livros a afinação interior para que, em meus lábios, a melodia seja o licor apetecido, servido em cálices de silêncio. Por ser poeta, sei que o sol brilhará de novo de igual modo quando aqui já não estiver; estarão meus versos, lidos sob a luz da luna llena, e assim estarei, pois o meu pensamento faz das palavras o mesmo que o escultor descobre numa pedra. Sou poeta, pois carrego uma ciência intuitiva, como se tudo nascesse por si mesmo, como nasce (dos montes) a açacaia e… Desaguo-me nos versos do mesmo modo com que, nos olhos de água, surge a água doce, sob a lua cheia, aos borbotões, na praia.

Açacalo as palavras, uma a uma, polindo arestas, desbastando os gumes… E o pó, do que não digo, faz- se bruma e a bruma, dos meus sonhos, novos lumes.

Deixem- me que vos diga: a flor está na palavra flor num alegrete que me entristece e por me entristecer me alegro, de repente. Tal como a última frase de Áticus a Cícero; ser ou não ser… “eis as que estão”, as dúvidas.

Deixem- me que vos diga: a flor está na palavra flor… e cada um terá a sua de eleição. E leio, são; são as flores que vos descrevem para que a palavra seja um retrato feito a sons e as minhas sejam … o teu jardim.

Tento percorrer as cercanias do lugar onde “moro” até à linha do horizonte. Faço, com os versos, um adarve; caminho estreito ao longo da muralha e é desse lugar sobranceiro que afago a brevidade pois ser poeta é ser o mais mortal de todas as criaturas.

Tento percorrer as cercanias que os meus olhos são torres albarrãs que me oferecem a paisagem por alcácema… Por isso sou sem quem sou; sou um poema, muralhas derrocadas para as emoções alcandoradas, bem mais puras.

Para o meu sangue nómada, a poesia é uma tenda e a minha solidão saudosista é a cinza do mais fantástico incêndio.

Vivo em delírio pois de lírios e de nardos se compõe a nesga de terra a resvalar pelas falésias, como um sol de ocaso sombrio e deslumbrante. A alma de um poeta é um limbo, composto de outras almas, que o diga o seu olhar vago e profundo.

Para o meu sangue nómada, a poesia é a última verdade de um poema que reside no valor das próprias coisas e depois… nada esperar de nada nem de ninguém para além da longínqua e indecisa erma e cósmica encruzilhada, ladeada de etéreas flores dos sentidos.

Para o meu sangue nómada, a amplitude cósmica está filtrada pelo momento do agora, pela música, por um caudal prenhe de emoções e tudo segue crescendo perante a diminuição dos dias; como se a fala estivesse numa rotação errada de jorros de imagens. Entreteço outras vozes e descubro, no corpo do poema, a hemofilia para que o insólito aconteça e o meu sangue nómada edifique a sua casa sobre a folha (antes) em branco.

O dia ensina o dia a ser um outro dia, renovado, pois tudo o que apresenta semelhança se apresenta, nitidamente claro, perante os meus olhos dotados para a revelação das coisas e da sua própria natureza; o dia ensina- me o futuro como caminho como se vivesse numa ilha deserta e nessa tentasse erguer um monumento, para que as gentes futuras saibam que existi.

O dia ensina o dia a ser um outro dia pois que o meu instinto me diz que seja impelido a expressar o que vejo e o que sinto, tal como uma árvore dá flores e frutos, também os dias se justificam pelos poemas que o meu estilo é a fisionomia da mente e o que retrato é mais do que a lisura da beleza; a minha “ máscara” é enrugada, mas vivida. Mas as ideias não, que surgem límpidas como fio de água irrompendo de um silvedo…

O dia ensina o dia a ser um outro dia… e que toda a gente saiba disto; que o não quero por segredo.

Escrevo, para dizer tudo o que, algures dentro de mim, é desconforto e os meus sonhos são como naus dentro da tarde. Toco o cair do dia com o meu olhar e tudo em minha alma se despenha e, de verdade, não sei bem o que arde; se as velas dessas naus ou os meus olhos… até que a noite venha.

Há plácidas colinas dentro em mim, e enormes penedias, mesmo ao lado. Por isso, este meu canto é celebrado ora com a flor do nardo ou do jasmim.

Sonhei com uma ponte sobre o Nilo, durante o descanso inquieto das águas; um rio largo, como se fosse o mar com duas margens e por entender que ser poeta é uma eufórica maneira de loucura… Ondulei os cílios como se fossem plumas ou a decomposição das cores de um arco- iris. Decomponho- me e ponho- me com essa ponte que faço com os dedos estendidos, tal como as hastes dos papiros se vergam e cantam na carícia da corrente.

Sonhei com uma ponte sobre o Nilo, e eis que senão, por razões que apenas o sonho nos permite, a ponte despregou- se das margens e fez- me planar sobre um mar de areia com montanhas de pirâmides.

Também, assim, na minha vida nasço para o sono como se fosse verde o meu coração estagnado e os meus versos fossem pétalas estendidas, levadas pela corrente dos dias mumificados.

Tal como em terra estranha ofereço, nas taças da manhã, o meu clamor para que a ondulação dos montes se cubra de uma luz diáfana espargida como poalha levantina. Em minha alma, ouço um ronronar de palavras para que a melodia estremeça em mim e os versos regressem ao poema como um enxame à colmeia ou como uma alcatifa de flores se desfralde sobre a planura dos vales.

Tal como em terra estranha ofereço, nas conchas destas mãos, o meu futuro para que, de regresso à cama onde ainda dormes, te estremunhes e tumultuoso de afecto, no fundo do meu corpo e da minha alma, num vai vem, te embales. E naveguemos, amor, pelos nossos corpos…à bolina.

Fujo à força do hábito e recrio- me, como se não fosse eu mesmo; fujo à inércia de me repetir pois descobri que a ambiguidade é o caminho mais claro, como são claros os caminhos da utopia; carreiros esconsos das montanhas, percorridos pela noite, enquanto o dia se espraia no lado oposto. Entro pelo templo da noite, por hábito, com a mesma nudez que trouxe ao mundo, para que o corpo divino da luxúria se celebre nos sentidos e me santifique as mãos, na oração pagã dos meus dedos deslizando sobre ti, como se o teu íntimo recanto se descrevesse por encruzilhadas de pinhais obscuros e o jorro da tua entrega fosse resina alfinetada amarga e doce do sal…

Fujo à força do hábito para que as melodias suaves assinalem o fulgor das centelhas do ocaso, dado que a noite é a grande guardiã do sofrimento do mundo e, por ora, desabituo- me a ser e, ao não ser, sou, pela ilusão de te amar, o que há de mais real.

No arrojado mar do instante, pelo qual a vida se contempla e não cabe em si, de tanta vida, imagem após imagem, há uma imagem que se compõe, aos poucos, pois quero oferecer- me na generosidade de um sonho aberto e bebo, pelos olhos, o oiro trémulo das estrelas perante um sol jamais deposto, omnipresente na sua realeza, justificando a face oculta da lua, tal como eu justifico o canto que me surge detrás do silêncio.

No arrojado mar do instante, é a luz crepuscular que me enerva e me provoca, como se a fragrância de uma frescura plena, num súbito tremor de claridade, me viesse pedir par que bebesse a sombra dos frutos iluminados. Obstinado na aprendizagem da existência, movido pelas vozes desconhecidas do dia…apenas a uma coisa agradeço o sonho da brevíssima eternidade. Claro que o sabeis. Sim, retribuo-me com poesia.

De um pequeno espaço, fiz um muito maior pela alma ansiosa da hora quando tudo em mim se abeira, como se o teu nome se unisse ao último suspiro e fôssemos, juntos, vaguear por onde o luar nos alumia.

De um pequeno espaço, fiz a ermitagem da montanha e lá em baixo, à margem de um rio claro, passei a ser um estranho perante a vida, o vento e as pedras, mas foi deste modo que me afeiçoei a tudo o que é obscuro, como se os poemas por escrever fossem imprecisões à flor da boca e o início de um ciclo qualquer me dissesse que já não viria… e por isso te pergunto:

Acaso um rio é mais perfeito quando o atravessamos?

De um pequeno espaço, faço outro maior e ladeio- me pela circulação submissa da tua pele colada ao meu corpo, par que me franqueies a entrada aos teus sonhos e às tuas ilusões.

De um pequeno espaço, modelei o universo que te ofereço, em tuas mãos; é barro ainda molhado, cuidado! Vê bem onde o depões…

Um rasto dos meus pensamentos existe ainda, mesmo que durmam o sono da morte as harmonias que se acossam nas veias mais estreitas ou no pulsar das têmporas, latejantes, como se uma fragilidade se erguesse, tal como se ergue um jardim suspenso, ou um corpo no seu voo. Magnifico a infância, como lugar de exílio, país utópico sobre uma simples miragem, num narcisismo singular para que assim o monólogo dialogal se apresente nítido e sereno, como é sereno o instinto num ingénuo panteísmo, de esteta melancólico e profundo.

Pelo rasto dos meus pensamentos, (re)descrevo- me em poesia, redesenhando a tragédia do mundo.

Senti as emoções e escrevo agora, vendo-as numa oferta, ao longe, como se não fossem minhas, como se o tempo viesse dizer-me ao ouvido que já fui outro, que não sei quem foi, e que o que supus ter feito… foi tudo o que fingi fazer. Seriam sonhos? Não sei. Há coisas que trepam pelo passado como restos e migalhas sobre a mesa num aperitivo de fausto banquete e eu vou, ao redor dos muros, sob a labareda de um sol de Julho, mendigando a sombra das memórias, como quem agradece à enorme tília em plena floração.

Senti as emoções; aceito, de mãos plenas, a entoação que se torna abstracta pois que ao tronar- se abstracta me indica o caminho para que o meu sonho se torne melódico num acorrentado de música dos meus versos; por isso me relembro como visual estético e tudo em mim se revela como um quadro sem outra moldura que não seja a distância. Canto pela alma e com a alma e tenho a beleza da superfície do que vejo para que me eduque pelo sonho no culto prolixo e doentio da vida interior.

Senti as emoções, e escrevo- as agora; como se me debruçasse sobre mim mesmo e inalasse o perfume inicial e metafísico de uma flor.

Confesso; foi só um qualquer ciúme meu de ti, dos beijos teus, da tua mão na minha, tal como adormece em mim o adormecer e as fontes têm sonho de percurso ainda por fazer e os ninhos a mornura do teu rosto quando, sobre o meu peito amornecido, por fim, te aninhas.

Confesso; que esta coisa a que chamam amor é um tempo de estar e de sentir… por isso, confesso que choro a tua ausência pela saudade e por sentir saudade da saudade sou mais feliz e posso, aos soluços, rir.

Busco as formas díspares do olhar e dir- vos- ei da convergência poderosamente pessoal, para que o nó do pensamento se desate, numa urgência, e me leve até à raiz da alma e todas as demandas me aconteçam através do corpo.

Busco as formas, alongando- me em círculos, ora de fogo, ora fíbulas que compõem as vestes e os debruados dos tecidos, como se a incidência da luz sobre eles fossem relâmpagos ou profundidades aquáticas, folhas ou raízes que rasgam a densidade da palavra original.

Busco as palavras errantes, tantos anos à deriva dentro de mim, não apenas para perceber a realidade mas para justificar o exacto momento em que um deserto se desdobra noutro deserto ainda maior e o derrame sentimental não aconteça; isso seria germinar jardins em grãos de areia… Busco as formas, para que em minha alma aconteça o lugar do drama e todas as superfícies, do horizonte até onde tem início a minha pele, se revele misticamente suturada, impregnada, e cheia.

Incansável artífice do sonho, existir é um exercício de tortura permanente, estudos interiores fora de mim, retratando símbolos e rituais, como meras aparências.

Incansável artífice do sonho, existo- me, em surdina, pela profundidade carnal, como se a escrita fosse um corpo e o poema os dedos que o acariciam. Regresso no ímpeto narrador, narro a dor, explicativo e digo- vos que não sei bem o quê, mas digo- vos.

Incansável artífice do sonho, desembrulho- me como se todo um excesso de sentido transbordasse das memórias e desses infindos momentos de silêncio, como se existisse em mim exíguo cubículo, às escuras. Circunscrevo tudo á minha dimensão e sou visionário amnésico cortando, com os dentes, o fio da narrativa. Incansável artífice do sonho, depuro e linguagem por saber que a poesia também se escreve na ausência de palavras. Sou lírico por me exceder, tal como se excede a luz, para que a não vejamos. E quando me olho, por inteiro, é como se eu fosse já “ alguns momentos depois”… a exactidão das coisas dilui- se por meandros incertos…Olho- me, num espelho estilhaçado, e o prismático reflexo lança- me ao rosto o eco da minha própria voz:

-“ Incansável artífice do sonho… Somos, nós dois!”

Epílogo

Exalto o mínimo, visando a liberdade, cioso e atento, sobranceiro às experiências da linguagem, como se as consequências dos lugares em minha essência fosse a apologia do vazio, para que tudo se recrie; uma e outra vez. Exalto o mínimo, num impulso alegórico em que as imagens são, elas mesmas, o próprio som adormecido nas palavras escritas e o que se realiza em mim transcende a leitura dos poemas, num malabarismo de hábitos, e de gestos, para que a tela do palco não se veja.

Exalto o mínimo, para que a ordem e o êxtase ganhem alegorias ao avesso e encontre, erguida sobre a blasfémia de existir, a minha igreja. Exalto o mínimo, como prisioneiro de um corpo dramatizado, lembrando crepúsculo que se recusasse a acontecer e, ao fingir a realidade, re rasgassem as pedras estaladas pelo tórrido calor, como se rasgam os lençóis para cobrir os móveis da casa desabitada. Exalto, ao mínimo, a anatomia dos textos, num aparato barroco de frases e de ideias, e procuro nas paisagens os manuais que me ensinem a ver mais ao longe, por onde os incêndios devoram os pastos e reduzem a cinzas tudo oque foi belo pela Primavera. Assim, tal como as árvores, sou encarcerado da terra e salvam- me os ramos, no alto dos quais perduram as sementes.

Exalto, ao mínimo, a natureza de algo maior desde que, poesia, me re-inventes.

E escrevo, para que as palavras se aflorem em ressonâncias anteriores e demoradas, pois que o poema é um lugar de representação de um eu, que “fui-sou”; sujeito à e da quotidiana rotina para que se acenda na memória uma lamparina, em noite de invernia. Escrevo, para celebrar a clandestina presença do deserto vivido em mim, como se o meu corpo fosse por rios atravessado e nessa travessia surgisse, todo eu, do outro lado. Escrevo por saber que não há nada mais profundo do que a pele; a superfície onde os rituais primitivos acontecem, por onde os beijos do desespero e da entrega fortuita irrompe, como se fosse o dia primeiro do verbo amar…

Vou, pela epiderme das carícias, ao longo dos teus desfiladeiros para romper as fronteiras do teu medo e entrar, por ti, como enxurrada que viesse dizer a inclinação das montanhas em degelo. Não há nada mais profundo do que a pele, mesmo que os dias desabitados transcrevam, de repente, os olhos para o abismo amoroso e as luzes, escancaradas de penumbra, de mansinho, como de mansinho chegavam os teus passos para os mornos serpenteados dos dedos que me descreviam meu próprio corpo.

Não há nada mais profundo do que a pele, pois que a visão excessiva de ti me pede para que escreva e eu… escrevo, porque ao escrever digo “ ergo sum”; logo existo, na sofreguidão compulsiva da hegemonia das formas, esse caminho que me leva ao universo. Escrevo a pele, num apelo da linguagem através da paisagem de luz solar e jovem. Escrevo, para que o corpo metafísico das palavras, lisas como seixos e rugosas como valados de infância, deem aos meus versos, sobre a folha ressequida, a pele da eternidade, tal como, do pátrio céu…as nuvens chovem.

S.B.Messines,
17 de Julho, 2015
(10 horas)