A FOTOGRAFIA
De João Bernardo

Dormia profundamente, como já não fazia há muito tempo, pois tinha reencontrado a felicidade e a paz de espírito. Tinha encontrado alguém com quem partilhar o bem mais precioso do mundo. O amor.

Ouviu uma voz a chamar por ele. Era a mãe. “Anda tomar o pequeno-almoço”, dizia.

Tomado o pequeno-almoço, vestiu-se e cuidou da sua higiene, depois despediu-se da mãe e partiu ao encontro da sua amada, como fazia todos os dias, antes das aulas da tarde. Costumavam encontrar-se no museu de fotografia da cidade. Aliás, nunca se tinham visto fora desse mesmo museu, pois a sua amada – e acho importante referi-lo – era uma fotografia de uma mulher que já havia morrido.

Comprou o seu bilhete, que tinha desconto por ser um cliente tão assíduo, e deslocou-se ao lugar onde costumava estar o amor da sua vida. Mas quando lá chegou, apercebeu-se que, em vez de, na parede, estar exposta a fotografia da mulher que, com a sua beleza, lhe fizera palpitar o coração, estava outra fotografia qualquer à qual ele nem se dignou a prestar atenção. Dirigiu-se a um funcionário do museu e perguntou-lhe, aflito, o que acontecera com aquela imagem, que ele tanto estimava. O homem explicou-lhe que aquela fotografia já estava exposta há três anos e, para dar lugar a outras obras, tinha sido guardada e ia ser enviada para outro museu, noutro país. O rapaz empalideceu e perguntou onde estava agora a imagem da sua amada. O empregado respondeu que estava no armazém e que no dia seguinte ia ser levada para o aeroporto. Não pensou em mais nada. Saiu do museu e foi para a escola.

A tarde passou a correr, pois estava muito distraído a pensar em mil e uma formas de reaver a estimada fotografia. Passaram-lhe muitas coisas pela cabeça, mas a mais ousada seria, com a espingarda do pai, assaltar o museu e roubar a imagem da sua bela e platónica amada. Ficou cego com essa ideia. Esperou que os pais adormecessem, pegou na sua mochila, onde tinha escondido a espingarda, e partiu em direção ao museu. Ao chegar lá constatou que as portas eram de vidro, coisa em que nunca tinha reparado, já que de dia estavam sempre abertas. Então, pensou em quebrar o vidro para poder entrar. Depois de uma série de cotoveladas, percebeu que não conseguiria nada com aquilo. Tratou de encontrar uma pedra e, quando a arranjou, atirou-a contra o vidro. No exato momento em que o projétil saiu da mão dele, arrependeu-se, pois pensou que o museu poderia ter alarme. Correu e escondeu-se no beco. Deixou passar um minuto, depois dois e depois três e não ouviu nada. Então, saiu do esconderijo e entrou pelo edifício adentro. Observou a planta do museu, que se encontrava junto à entrada. Na planta, viu uma indicação que dizia “armazém”. Seguiu para lá. Quando viu a porta, reparou que era bem maciça e tinha uma grande fechadura. “Vai ser difícil arrombar isto”, pensou, e levou a mão à maçaneta para  tentar abri-la, mas sem grandes esperanças. Para sua sorte, algum incompetente tinha-a deixado aberta. Entrou. Largou a espingarda a um canto e começou a procurar a fotografia. Não devia estar muito escondida, já que só tinha sido guardada nesse dia. Tanto assim que a encontrou em dez minutos. Apressou-se a pôr a fotografia no bolso e a pegar na arma – queria sair dali o mais rápido possível. Ao sair da sala, viu uma luz e escondeu-se. “Quem está aí?”, perguntou uma voz grave. Quando a luz lhe foi apontada para a cara, ele respondeu apontando a espingarda. “Calma”, disse o homem. “Quem é você?”, perguntou o proprietário da espingarda. “Sou o segurança do museu. Eu vi que o alarme silencioso tinha sido ativado e vim ver o que se passava, mas já me vou embora e não vou contar nada a ninguém, mas, por favor, não dispares”, respondeu o segurança, aterrorizado com a situação. “Não vai, não. Não posso deixá-lo ir!”, exclamou exaltado. Na cabeça dele ouvia uma voz feminina que lhe dizia para disparar, uma voz que ele associava à sua amada. Seria possível uma fotografia estar a falar com ele? “Não tens de fazer isso”, suplicava o segurança, mas a voz continuava, cada vez mais alto, até que o seu dedo apertou o gatilho. Boom! Já estava. Com o susto ficou paralizado um segundo, mas no segundo a seguir desatou a correr dali para fora, fugindo pela rua abaixo.

E tudo isto por uma obsessão. Tudo isto por uma fotografia.

About the Author:

Joao bernardo

João Bernardo is a fifteen-years old high school junior from Ericeira, near Lisbon in Portugal. An avid reader, writing is one of his passions. In the annual literary contest organized by publishing house Caminho  titled  “Concurso Uma aventura… literária 2017” his flash fiction piece “A Fotografia” was awarded Honorary Mention in the category “original text” in the competition with over fourteen thousand submissions by school children from all over Portugal.